INTRODUÇÃO: Muitos medicamentos quimioterápicos estão vinculados a doenças do sistema cardiovascular e nos últimos anos, a cardio-oncologia vem ganhando mais espaço nas publicações internacionais. A cisplatina é uma das drogas bastante estudadas, porém seus efeitos adversos em associação com outras drogas não estão bem estabelecidos. RELATO DE CASO: Feminina, 62 anos, dislipidemica, tabagista e diagnóstico recente de câncer de bexiga com início de quimioterapia (QT) com cisplatina e gencitabina. Iniciou quadro de dor precordial de forte intensidade com irradiação para o membro superior esquerdo, associado a dispneia e náuseas 8 dias depois da primeira sessão de QT. Foi realizado eletrocardiograma (ECG) com alteração de repolarização em parede anterior e coletado marcadores de necrose miocárdica, com curva ascendente de troponina, sendo caracterizado Infarto Agudo do Miocárdio sem Supra de ST (IAMSST) com TIMI risk 1 e GRACE Score 86. Durante internação, paciente foi submetida a cineangiocoronariografia a qual demonstrou ausência de estenoses nas artérias coronárias e ecocardiograma sem alterações segmentares com fração de ejeção preservada. Foi realizado ressonância magnética do coração sendo evidenciado realce tardio transmural em parede antero-lateral com edema perilesional. Paciente foi medicada com dupla antigregação (DAPT) e com bloqueador de canal de cálcio. DISCUSSÃO: Apesar da enorme maioria de casos de IAM ser por etiologia aterosclerótica, existem uma gama de fatores que podem levar a IAM sem necessariamente apresentar obstrução coronariana. Há ainda, um nicho específico de pacientes que se apresentam com isquemia miocárdica associada a doença neoplásica. Entre os vários motivos, o estado pró-trombótico que o câncer induz, vasoespasmo e cardiotoxicidade pelos quimioterápicos. Dentre os principais quimioterápicos que podem causar isquemia: Fluorouracil, Cisplatina, Capecitabina e Interleucina-2. A Cisplatina pode acarretar estados de hipomagnesemia a qual pode ser o gatilho para vasoespasmo coronariano assim como a deficiência de magnésio intracelular pode ser fator de risco isolado para síndrome coronariana aguda. A Gencitabina não é uma droga comumente associada a isquemia miocárdica, porém a mesma pode ocasionar disfunção endotelial e indução de trombose intra-coronária. CONCLUSÃO: Existe pouca evidência na cardioproteção e no tratamento dos pacientes oncológicos que apresentam IAM sem lesão obstrutiva. Mais estudos devem comprovar o benefício ou não de DAPT neste perfil de paciente.