Introdução: As doenças cardiovasculares são responsáveis por aproximadamente 17 milhões de mortes por ano no mundo, sendo cerca de 25% por morte súbita cardíaca. As causas de MSC divergem entre as faixas etárias, mas de uma forma geral a doença arterial coronariana é a causa mais comum, respondendo por até 70% dos casos. Relato de caso: Paciente T.M.S., masculino, 38 anos, obeso, DAC (PTCA com 2 stents em ADA, 2 stents em Cx e 1 stent em CD) interna após quadro de morte súbita abortada. O evento ocorreu após intenso esforço físico, atendido por médicos que estavam no local e submetido a manobras de RCP, verificado ritmo de fibrilação ventricular e realizada desfibrilação elétrica, revertendo ao ritmo sinusal após primeira tentativa. Na admissão, exames laboratoriais não evidenciavam alterações, o ECG mostrava ritmo sinusal, BRD de primeiro grau prévio, o ecocardiograma transtorácico com FSVE preservada, sem alterações segmentares e o cateterismo cardíaco com stents pérvios. Realizada ressonância miocárdica (RM) que evidenciou padrão de realce tardio compatível com miocardite aguda. Optou-se pelo implante de cardiodesfibrilador, sem intercorrência, tendo o paciente recebido alta hospitalar. Discussão: A miocardite tem uma ampla variedade de apresentações clínicas. A parada cardíaca é uma complicação bem estabelecida da miocardite viral aguda, tendo baixa incidência, variando entre 1-11% de acordo com a população em estudo, sendo mais comum em indivíduos com menos de 35 anos. Ao considerar a possibilidade de miocardite, o procedimento padrão ouro seria a biópsia endomiocárdica. No entanto o elevado custo, a disponibilidade reduzida e a possibilidade de graves complicações limitam a padronização do uso dessa técnica. Frente a sua alta especificidade e viabilidade, a RM deve fazer parte da investigação etiológica. No que diz respeito à profilaxia secundária de morte súbita em pacientes pós-miocardite, a indicação de implantar o CDI permanece um desafio, visto que a miocardite é uma condição transitória da qual a recuperação é comum podendo cicatrizar completamente e as arritmias durante a fase aguda geralmente não são consideradas decisivas para indicações imediatas. Conclusão: Ao abordar um paciente sobrevivente de morte súbita, miocardite deve entrar como diagnóstico diferencial, principalmente em indivíduos com coração estruturalmente normal, sendo antes excluída doença arterial coronariana e outras doenças cardiovasculares.