INTRODUÇÃO: A endocardite infecciosa (EI) com hemoculturas negativas representa um pequeno percentual dos casos, no entanto, em muitos destes episódios é possível se identificar o microrganismo causador da infecção através de métodos sorológicos e/ou moleculares.RELATO DE CASO: Paciente masculino de 65 anos, portador de valva aórtica bicúspide, diagnosticado no dia 31/10/2017 com EI de hemoculturas negativas, complicada por abscesso paravalvar aórtico evidenciado pela angiotomografia de aorta (figura 1), sendo submetido à troca valvar por prótese biológica no dia 15/11/2017 e iniciado antibioticoterapia com Ampicilina+Sulbactam associado à Ceftriaxona por 6 semanas desde a cirurgia. Não foram visualizados microrganismos na pesquisa direta de fungos e na bacterioscopia pelo Gram da peça cirúrgica e as culturas para fungos e bactérias foram negativas. Recorreu do quadro de febre vespertina três meses após o término da antibioticoterapia. Após sucessivas internações e exames inconclusivos, obteve-se PCR positivo para Coxiella burnetii no dia 28/08/2018, tendo sorologia IgM fase I para C. Burnetiipositiva no dia 03/09/2018 e iniciado tratamento com Doxiciclina e Hidroxicloroquina. Evoluiu com novo abscesso, desta vez tunelizado, sugestivo de pseudoaneurisma, verificado pela angioTC do dia 19/08/2018 (figura 2). Na impossibilidade clínica e cirúrgica para nova intervenção, optou-se pelo uso de plug vascular e fechamento do orifício comunicante com sucesso. Após o procedimento teve altamantendo tratamento oral e acompanhamento com ECOTE seriados. DISCUSSÃO: A infecção pela C. burnetii causa uma doença aguda ou crônica denominada Febre Q, podendo se manifestar como endocardite. Muitos pacientes têm valvopatia prévia, sendo as valvas aórtica e mitral frequentemente envolvidas. O diagnóstico é feito através de achados clínicos e epidemiológicos, microbiológicos (testes sorológicos para anticorpos de fase I e II contra C. Burnetii e PCR no soro ou no tecido) além dos exames de imagem (ECOTT ou ECOTE). Alguns casos podem evoluir de forma grave, com complicações como abscessos ou pseudoaneurisma perivalvar, conferindo alta mortalidade e morbidade, pois causam estresse adicional na parede da aorta, com risco potencial de ruptura. Sendo, portanto, recomendada a correção cirúrgica imediata com retirada do tecido infectado.CONCLUSÃO: Diante de um quadro com alto risco cirúrgico e de nova infecção para realizar o tratamento padrão ouro, o uso de devices como o plug vascular se mostrou uma alternativa possível com resultado satisfatório.
FIGURA 1
FIGURA 2