Introdução: A cardiomiopatia de Takotsubo (CMT) é uma condição clínica que cursa com disfunção sistólica transitória do ventrículo esquerdo desencadeada por estresse físico ou emocional. A incidência é baixa (cerca de 1-2% das síndromes coronarianas agudas) e na maioria dos casos apresenta bom prognóstico, com reversão da disfunção ventricular em dias a semanas. Relato de Caso: Paciente de 75 anos, sexo feminino, hipertensa, dislipidêmica, doente renal crônica, obesa e hipertireoidea. Em caráter ambulatorial referia dor precordial atípica, sendo optado por investigação não invasiva com ecocardiograma (ECO) de estresse com dobutamina. Durante o ECO em repouso apresentava função sistólica preservada, fração de ejeção (FE) de 56%, sem alterações na mobilidade segmentar miocárdica. Durante a infusão de dobutamina à 20 mcg/Kg/min e atropina à 0,25 mg a freqüência cardíaca (FC) atingiu 148 batimentos por minuto (bpm) - 102% da máxima predita para a idade. No pico do estresse, apresentou disfunção sistólica, FE de 30%, às custas de acinesia da região apical e hipocinesia das demais paredes, associado a infradesnivelamento do segmento ST em parede inferior, náuseas e hipotensão, sendo interrompido o exame. Na fase de recuperação, apresentou melhora dos sintomas e recuperação parcial da função sistólica do ventrículo esquerdo, FE de 40%, mantendo hipocinesia apical, além de discreto supradesnivelamento de ST em parede inferior. Admitida no setor de emergência, assintomática, FC 80bpm, pressão arterial de 100x50mmHg, ausculta cardíaca e respiratória sem alterações e eletrocardiograma em ritmo sinusal sem alterações isquêmicas agudas. Submetida à cineangiocoronariografia que demonstrou coronárias sem lesões obstrutivas e ventriculografia com balonamento e acinesia apical. Realizada ressonância magnética cardíaca que endossou estes achados, confirmando o diagnóstico de CMT. A paciente recebeu tratamento clínico de suporte e apresentou boa evolução clínica. Discussão: A CMT pode ser precipitada por estresse farmacológico, sendo que o principal medicamento associado é a adrenalina, seguido pela dobutamina. O prognóstico é favorável na maioria dos casos, com reversão da disfunção sistólica. Uma vez identificada a disfunção ventricular/dor/alteração eletrocardiográfica ao exame, o paciente deve receber tratamento prontamente para reduzir o risco de complicações.Conclusão: O risco de CMT não deve ser negligenciado na realização de exames com estresse farmacológico adrenérgico, devendo a solicitação desses exames ser considerada com cautela e ciência de suas complicações.