Introdução: A endocardite infecciosa é uma condição de alta morbi-mortalidade. O tratamento requer frequentemente o uso de esquema terapêutico poliantimicrobiano, com potencial de toxicidade. Relato de caso: M.B.M., 38 anos, feminino, antecedente de troca valvar mitral por prótese biológica há um mês da internação, admitida com febre, queda do estado geral e vegetação na prótese mitral, com diagnóstico de endocardite infecciosa precoce de prótese. Foi iniciado tratamento empírico com gentamicina, vancomicina e rifampicina. No entanto, apresentou reação cutânea à vancomicina, sendo substituída por daptomicina. As hemoculturas foram positivas para Staphylococcus epidermidis resistente a oxacilina. Por falha de tratamento etiológico, indicada nova cirurgia de troca valvar. No pós operatório, manteve-se o esquema antimicrobiano, com melhora clínica inicial e suspensão da gentamicina após duas semanas. Na terceira semana, evoluiu com episódios subfebris e eosinofilia periférica (até 1789 eosinófilos), além de dor torácica pleurítica à esquerda. Na investigação, radiografia de tórax evidenciou derrame pleural comprometendo dois terços do hemitórax esquerdo. Realizada toracocentese diagnóstica e de alívio com saída de 900mL de líquido seroso. Estudo do líquido evidenciou derrame exsudativo com 21% de eosinófilos e culturas negativas. Pela associação de daptomicina com eosinofilia e pneumonia eosinofílica, foi realizada troca desta droga por linezolida e gentamicina. A paciente evoluiu com melhora da eosinofilia, não apresentou mais episódios subfebris e o derrame pleural não recorreu. Recebeu alta assintomática. Discussão: A eosinofilia periférica é descrita em 15% dos casos de uso da daptomicina e, destes casos, 12% evolui com pneumonia eosinofílica. É descrito em literatura comprometimento do parênquima pulmonar, não sendo descrito até então acometimento exclusivamente pleural pela daptomicina. A melhora clínica da paciente com a suspensão da medicação corrobora a associação da droga com o quadro clínico apresentado. Conclusão: A daptomicina vem sendo utilizada de forma cada vez mais frequente no tratamento da endocardite infecciosa. Não obstante, é necessário reconhecer, precocemente, possíveis eventos adversos e substituir a medicação quando necessário.