INTRODUÇÃO: A Síndrome de Takotsubo (ST), é uma condição aguda, reversível, caracterizada por disfunção sistólica aguda e transitória dos segmentos médio e/ou apical do ventrículo esquerdo (VE) e pode mimetizar síndrome coronária aguda (SCA). Predomina em mulheres na pós-menopausa, após estresse físico/emocional. A principal hipótese do mecanismo da disfunção sugere que um pico de catecolaminas resulte em disfunção microvascular regional. Pode apresentar-se com alteração do eletrocardiograma (ECG) e aumento de marcadores de necrose miocárdica. No exame de imagem há um padrão típico de acinesia das porções apicais e hipercinesia das porções basais do VE. As complicações são raras. O prognóstico a longo prazo é bom.
RELATO DE CASO: FDSA, feminino, 69 anos, hipertensa, diabética, coronariopata (2 stents em 2014) admitida com queixa de dispnéia, vômitos, mal estar generalizado e poliartralgia. Negava precordialgia. Ao exame físico apresentava ritmo cardíaco irregular, frequência cardíaca de 105 bpm e pressão arterial de 146x90 mmHg. O ECG evidenciava fibrilação atrial de alta resposta ventricular. Exames laboratoriais: Troponina I: 1,15 (VR: 0,012 - Pico 2,41), PCR 2,7, sem leucocitose. Como a paciente era moradora de região endêmica de arboviroses, foi solicitada sorologia para Dengue (negativo), Zica (negativo) e Chikungunya (positivo). Apresentou reversão para ritmo sinusal após 1 ampola de Tartarato de Metoprolol. Ecocardiograma transtorácico revelou VE com dimensões aumentadas, fração de ejeção (Simpson) 38%, acinesia dos segmentos apicais, hipocinesia dos segmentos médios e segmentos basais com contratilidade preservada, sugestivo de cardiopatia adrenérgica. Como a paciente era alérgica a iodo e a principal suspeita era ST, optou-se por não submeter a mesma a cineangiocoronariografia no primeiro momento, sendo então realizada Ressônancia Nuclear Magnética cardíaca que demonstrou acinesia dos segmentos apicais com realce tardio e um padrão sugestivo de ST (descartando miocardite e diminuindo chances de SCA). Apresentou evolução satisfatória, com melhora importante dos sintomas, recebendo alta hospitalar após 14 dias.
CONCLUSÃO: O caso ilustra como a ST e arbovirose podem coexistir e devemos suspeitar mesmo quando o paciente não apresentar clínica e ECG sugestivos da mesma, evitando subdiagnóstico, aumentando risco de complicações.