Fundamento: No Infarto Agudo com Supra Desnivelamento do Segmento ST (IAMCSST), o tempo desde o início dos sintomas até a instituição com Intervenção Coronariana Primária (ICP) é diretamente proporcional à ocorrência de eventos clinicamente relevantes. Desse modo, as constantes transferências inter-hospitalares são fonte de atraso nesse tratamento e pode ocasionar desfechos desfavoráveis como o aumento da mortalidade.
Métodos: Trata-se de uma sub análise do Registro VICTIM (VIa Crucis para o Tratamento do Infarto do Miocárdio) com abordagem transversal e quantitativa, desenvolvido no período de dez/2014 a junho/2018, no estado de Sergipe a fim de comparar a mortalidade entre os pacientes com diagnóstico de IAMCSST que tiveram acesso direto ou indireto ao hospital com capacidade de realizar ICP. O acesso indireto é representado por aqueles que passaram por unidades sem serviço de hemodinâmica para de lá serem transferidos para hospital com ICP. Os pacientes foram acompanhados desde o início dos sintomas até 30 dias após o infarto. Foi adotado o nível de significância p< 0,05.
Resultados: Foram incluídos 1081 pacientes, sendo 82,6% usuários do SUS e 17,4 usuários da rede privada (p<0,05). A idade média foi de 61,7±12,1 anos, sendo que os que tiveram acesso direto tinham em média de 63,0±12,5 anos e os com acesso indireto tiveram média de 61,5±12,0 anos (p = 0,189). Do total, 150 tiveram acesso direto a hospital com angioplastia e 931 foram transferidos de outras unidades. No decorrer de 30 dias do IAMCSST a mortalidade geral entre os que tiveram acesso direto e indireto, respectivamente, foi 7,4% vs 12,0% (p = 0,040), a mortalidade cardiovascular foi 4,3% vs 10,1% (p = 0,017) e a mortalidade não cardiovascular foi de 2,7% vs 2,0% (p=0,904).
Conclusões: O tempo perdido nas transferências inter-hospitalares implica em piores prognósticos e consequentemente aumento de mortalidade que foi maior entre os pacientes que tiveram acesso indireto ao serviço com capacidade de realizar ICP. Além disso, observa-se que tal fato é mais prevalente na população coberta pelo Sistema Único de Saúde com taxas de mortalidade maiores do que os atendidos pela rede privada.