Fundamento: O Brasil é marcado por disparidades socioeconômicas e culturais e o Infarto Agudo do Miocárdio com supra desnivelamento do Segmento ST (IAMCSST) é uma das patologias que mais vitimam a população. Ter acesso rápido é fundamental para o prognóstico e sobrevida dos acometidos sendo importante conhecer o impacto dessas disparidades no acesso dos pacientes com IAMCSST as terapias de reperfusão.
Métodos: O presente estudo utilizou dados do Registro VICTIM (VIa Crucis para o Tratamento do Infarto do Miocárdio) para analisar um total de 1081 pacientes com IAMCSST atendidos no período de dezembro de 2014 a março de 2018, nos quatro hospitais com Intervenção Coronariana Primária (ICP) em Sergipe. Os pacientes foram divididos em dois grupos: os que tiveram acesso direto e os que realizaram transferência a fim de comparar o perfil socioeconômico e demográfico entre os grupos. Foi adotado o nível de significância p< 0,05.
Resultados: Dos 1081 pacientes, 931 passaram por alguma transferência inter-hospitalar e 150 tiveram acesso direto ao hospital com ICP. A média de idade entre os transferidos foi de 61,49 ± 12,02 anos, enquanto os de acesso direto tiveram média de 62,97 ± 12,56 anos. Houve um predomínio do sexo masculino em ambos os grupos. Com relação a classe social e escolaridade, houve uma maior preponderância da classe E (55,4%; p <0,001) e do ensino fundamental (53,1%; p <0,001) nos transferidos por outras unidades, e da classe C (31,9%; p <0,001) e do ensino superior (33,3%; p <0,001) no acesso direto. Maiores distâncias foram percorridas pelo grupo com transferência de outra unidade antes de chegar ao hospital com ICP (71,35 ± 74,34 km vs 15,82 ± 30,10 km; p <0,001). A ICP foi realizada em 50,8% dos casos, com uma maior realização entre os pacientes com acesso direto (83,2% vs 45,6%, p <0,001). A ICP não primária foi mais realizada no grupo dos transferidos (33,6% vs 15,3%, p <0,001) quando comparada aos que tiveram acesso direto.
Conclusões: A baixa escolaridade, nível socioeconômico e distância foram os principais fatores que contribuíram para as disparidades entre os grupos. Chama atenção a alta taxa de pacientes que não fizeram angioplastia primária associado ao atraso maior vivenciado pelos pacientes que não tiveram acesso direto ao hospital com ICP.