Introdução
O Carfilzomibe (CFZ) é um inibidor de proteassoma indicado para o tratamento do mieloma múltiplo (MM) recaído ou refratário, que melhorou a sobrevida com taxa de resposta de aproximadamente 87% e aumento da sobrevida global. Este quimioterápico tem sido associado a incidência de cerca de 6 a 7% de cardiotoxicidade. Os principais relatos são de palpitações, dispnéia, cardiopatia isquêmica, hipertensão e mais comumente o aparecimento ou agravamento de insuficiência cardíaca. Os fatores de risco preexistentes tais como idade, sexo, comorbidades e a exposição prévia a quimioterapias cardiotóxicas como as antraciclinas podem aumentar a toxicidade cardiovascular nesses pacientes. Devido a essas ocorrências, a identificação, prevenção e manejo das complicações cardiovasculares torna-se cada vez mais necessário para a manutenção do melhor tratamento anti-neoplásico.
Apresentação
JEMC, 56 anos, masculino, sem comorbidades, MM com comprometimento ósseo e medular desde 2016, iniciou tratamento para doença refratária com CFZ (70mg/m²). Nos primeiros dias de tratamento apresentou elevação da pressão arterial, controlada com enalapril em doses baixas. Após o 15º dia de tratamento, evoluiu com fibrilação atrial de alta resposta ventricular, sendo revertida com amiodarona e retorno ao ritmo sinusal. Como houve progressão da doença, foi associada doxorrubicina, ciclofosfamida e etoposideo. Após primeiro ciclo paciente apresentou elevação de troponina T ultrassensível e NT pro BNP além de Ecodopplercardiograma (ECO) com strain longitudinal de -16%. Foi iniciada cardioproteção com metoprolol em associação ao enalapril. Repetido ECO com strain e biomarcadores 15 dias após e houve normalização dos resultados, sendo liberado para novo ciclo de quimioterapia. Evoluiu com sucesso e manutenção do antineoplásico com boa resposta ao tratamento.
Discussão
O MM é uma doença com maior incidência em idosos, sendo que estes, muitas vezes já possuem fatores de risco preexistentes para o envolvimento cardiológico ocasionado pela quimioterapia. Existem poucas evidências de como fazer o seguimento e controle dos efeitos adversos ocasionados por essas drogas até o dia de hoje. No caso do paciente acima, a procura pela cardiotoxicidade e a realização de exames como eletrocardiograma, ECO com strain, assim como a dosagem de biomarcadores seriados resultou na identificação precoce da toxicidade cardiovascular e o início da cardioproteção. O tratamento resultou na recuperação da injúria miocárdica e a manutenção do tratamento para controle da doença e melhora da sobrevida.