Introdução:
A gordura epicárdica é definida como o tecido adiposo localizado entre o epicárdio e o pericárdio seroso visceral. O aumento de sua espessura tem sido relacionado, na literatura médica, com a doença aterosclerótica, reestenose intrastent, aumento da incidência de fibrilação atrial (FA) e outros desfechos cardiovasculares. Apresentamos um caso clínico de extenso depósito de gordura epicárdica.
Descrição do caso:
P.A.A., 67 anos, sexo masculino. Antecedentes de hipertensão arterial, FA paroxística, acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e tabagismo. Anticoagulado com Varfarina. Procurou consultório com queixa de tosse. O exame físico era normal. Trazia um ecocardiograma transesofágico realizado em sua cidade, o qual mostrava massa hipoecogênica fixa ocupando a veia cava superior (VCS) e parte do átrio direito. Foi internado devido à suspeita de trombose da VCS.
Os exames laboratoriais eram normais, com INR de 1,2. Foi solicitada ressonância magnética cardíaca (abaixo), a qual demonstrou proeminente capa de gordura epicárdica, circunferencial a todo o coração. Tal gordura apresentava trajeto adjacente no mediastino superior, junto à VCS, sem sinais de colabamento ou trombose da mesma. Havia hipertrofia lipomatosa do septo interatrial.
Não havia indicação cirúrgica por não haver oclusão de estruturas vasculares nem compressão de cavidades ventriculares e por tratar-se de gordura homogênea, sem características de malignidade (lipossarcoma). O paciente recebeu alta com ajuste de anti-hipertensivos, varfarina em dose otimizada e atorvastatina.
Discussão:
Frequentemente encontramos depósitos de gordura ao redor do coração. Tal tecido tem sua embriogênese no tecido adiposo marrom. Não possui fáscia que o separe do miocárdio ou dos vasos epicárdicos, compartilhando, assim, sua microcirculação.. Sabe-se que possuiu função metabólica, endócrina, parácrina, termogênica e de proteção mecânica, sendo também proposto como marcador de risco cardiovascular.São fatores de risco relacionados ao seu aumento a obesidade e a idade, sendo 22% mais espessa em indivíduos acima de 65 anos.
Sua avaliação é possível por ecocardiografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética, sendo esta última o padrão ouro.
Conclusão:
O caso acima descrito mostra um paciente de alto risco cardiovascular com achado em ecocardiograma transesofágico inicialmente interpretado como trombose de veia cava superior. No entanto tratava-se de proeminente aumento da gordura epicárdica.