Introdução: A Cardiomiopatia de Takotsubo (síndrome do coração partido) em sua forma clássica é induzida por estresse emocional intenso, que ocasiona um pico catecolaminérgico capaz de induzir atordoamento miocárdico e disfunção ventricular na ausência de doença coronariana obstrutiva. Caracteristicamente a ventriculografia mostra o “balonamento apical” e as porções basais do ventrículo esquerdo mantém contratilidade preservada. Há relatos de formas atípicas, com déficits segmentares diversos. Pode também ser secundária a crises de feocromocitoma ou por abuso de psicoestimulantes. Aproximadamente 90% dos pacientes são mulheres na pós menopausa, com prevalência étnica semelhante e incidência de 1/1 milhão de pessoas ao ano.
Relato de Caso: Paciente feminina, 68, com história de fibrilação atrial permanente em anticoagulação e hipertensão arterial. Deu entrada em hospital terciário por dor precordial em aperto e dispnéia após forte estresse emocional. Ausculta com estertores crepitantes até ápice bilateral, ritmo de galope sem sopros. ECG com fibrilação atrial, FC:150 bpm e bloqueio de ramo esquerdo novo. Foram realizadas medidas para síndrome coronariana aguda e para edema agudo pulmonar, com necessidade de intubação orotraqueal, sendo encaminhada ao cateterismo de emergência, que mostrou ausências de lesões coronarianas obstrutivas e hipocinesia grave de regiões ântero-lateral, apical e inferior (fração de ejeção estimada em 35%) e contratibilidade preservada em região basal. Troponina elevada em grau moderado (300 pg/dL / VR: 15). Houve satisfatória compensação da insuficiência cardíaca, com uso de IECA, carvedilol e espironolactona, além de medidas não farmacológicas. Após 6 meses de seguimento, paciente encontra-se em classe funcional II e com fração de ejeção preservada. Conclusão: O relato é significativo ao trazer a forma clássica da síndrome de Takotsubo com boa evolução clínica, apesar de uma apresentação inicial pouco comum, com bloqueio de ramo esquerdo e edema agudo de pulmão. Mesmo com mortalidade estimada de 5%, há boa chance de remodelamento e recuperação da função ventricular.