RELATO DE CASO
Mulher de 53 anos apresentou dois episódios de dor precordial típica. Eletrocardiograma (ECG) evidenciou inversão de onda T em parede anterior extensa, recebendo 300mg de aspirina e clopidogrel. Submetida à angiografia que mostrou artéria descendente anterior (ADA) com lesão estenótica tubular grave do terço proximal ao médio-distal, seguido de suboclusão sugestivo de dissecção coronariana espontânea (DCE) tipo 2 (Fig. 1A), sem outras lesões (Fig.1B). Devido permanência de dor e fluxo TIMI II, realizado angioplastia com múltiplos stents por progressão retrógrada da dissecção com sucesso angiográfico (Fig. 2). Paciente manteve-se estável e assintomática com fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 45%.
Um dia após o procedimento, apresentou novo episódio de dor e angiografia de emergência mostrou DCE tipo 4 em artéria circunflexa (Fig 3). Devido insucesso de angioplastia foi mantido tratamento clínico. Paciente recebeu alta hospitalar após 8 dias recebendo aspirina e clopidogrel e mantém-se assintomática após 4 meses de acompanhamento.
DISCUSSÃO
DCE é definida como uma separação da parede arterial coronariana por causas não ateroscleróticas, traumáticas ou iatrogênicas. Acredita-se em uma ruptura da íntima ou sangramento da vasa vasorum com formação de hematoma que ao expandir comprime a luz verdadeira e desencadeia um processo isquêmico potencialmente fatal. Estudos reportam amplo espectro clínico e prognóstico. Em uma coorte de 87 pacientes da 43% apresentaram-se como IAMCSST, 38% IAMSSST, 14% com arritmias malignas e 7% com angina instável.3
Como o manejo da DCE difere do instituído em uma Síndrome Coronariana Aguda de causa aterosclerótica (SCA), um diagnóstico acurado e precoce é de suma importância. Portanto a angiografia coronariana permanece como exame diagnóstico padrão-ouro para os casos de SCA, mas pode subestimar uma DCE em até 70%.
A DCE não possui um tratamento padrão estabelecido e estudos comparando terapia conservadora e intervencionista se fazem necessários.
Estudos observacionais demonstram uma recorrência de DCE em torno de 15% nos primeiros 2 anos e 27% nos 5 anos seguintes com ocorrência de múltiplas em até 11% dos casos. No entanto não há descrição na literatura de ocorrência de DCE em curto prazo acometendo diferentes artérias coronárias, enfatizando a dificuldade terapêutica.
CONCLUSÃO
Trata-se de um caso raro de recidiva intra-hospitalar, à curtíssimo prazo, de dissecção coronária espontânea acometendo artérias distintas e manifestado por quadro clínicos distintos.