Introdução: O diagnóstico de miocardite aguda é desafiador. A confirmação se dá por ressonância cardíaca magnética e/ou biópsia miocárdica com achados típicos. Nós reportamos um diagnóstico alternativo de miocardite inflamatória por uso de simpatomiméticos por meio de ecocardiograma de estresse e angiotomografia cardíaca. Caso Clínico: Paciente 25 anos, masculino, com epilepsia e utilização de cocaína (painel toxicológico negativo na internação), foi admitido com dor torácica típica. Referia tentativa de autoextermínio por ingestão de 500mL de clembuterol (B2-agonista utilizado como termogênico por praticantes de musculação ) no dia anterior. Apresentou taquicardia sinusal ao eletrocardiograma, elevação de marcadores de necrose miocárdica (MNM) (Troponina-us: 2301ng/L) e ecocardiograma transtorácico com fração de ejeção preservada e acinesia dos segmentos anterolateral médio e basal, inferior basal e inferolateral basal. Após a normalização dos MNM, o paciente foi submetido à ecocardiograma de stress físico para elucidação diagnóstica. No exame apresentou boa capacidade funcional (14,9METs), melhora da fração de ejeção e um padrão atípico de “Strain” longitudinal - reduzido (-12,6%) ao repouso e normal ao pico do esforço (-20,8%) - figura 1 - indicando reserva miocárdica preservada e ausência de isquemia. Em seguida, o paciente foi levado à angiotomografia cardíaca para confirmar da ausência de coronariopatia. O escore de cálcio foi 0 (zero) e em aquisição tardia (após 10 minutos da injeção do contraste) foi possível confirmar o diagnóstico de miocardite por meio da imagem de realce tardio com padrão epicárdico na parede lateral do ventrículo esquerdo (os mesmos segmentos acometidos por disfunção segmentar) - figura 2. A história clínica juntamente com a evidência de inflamação miocárdica focal são compatíveis com miocardite aguda por abuso do clembuterol. Além disso, a melhora do Strain longitudinal global ao esforço físico reforça o recente conhecimento de que redução do espessamento radial pode ser compensada pelo encurtamento longitudinal do ventrículo esquerdo. Conclusão: A miocardite é um dos principais diagnósticos diferenciais em jovens com dor torácica e elevação de biomarcadores cardíacos e sem histórico de obstrução coronariana. Seja o reduzido risco/benefício associado a biópsia miocárdica, seja a reduzida disponibilidade da RM cardíaca incitam o estabelecimento de novos métodos diagnósticos. Assim, o ecocardiograma de estresse em conjunto com a angiotomografia cardíaca podem ser indicados em casos específicos.