Apresentação do caso
Paciente feminina, 52 anos, hipertensa, apresentou quadro de dor precordial com elevação de troponina e cineangiocorionariografia não mostrava lesões obstrutivas. Evoluiu com recorrência da dor precordial, troponina persistentemente elevada e episódios de taquicardia ventricular sustentada. A ressonância magnética cardíaca (RMC) demonstrou disfunção biventricular (FEVE 20%) e realce tardio septal de padrão não-isquêmico, sugestivo de miocardite aguda; assim como, aumento da trabeculação miocárdica do ventrículo esquerdo, com critérios para miocárdio não compactado (MNC, relação miocárdio não-compactado/compactado de 4,4). Foi realizada biópsia endomiocárdica (BEM) com diagnóstico anatomopatológico de miocardite de células gigantes (MCG). Iniciou tratamento com prednisona, micofenolato e ciclosporina, com boa resposta, confirmada por BEM realizada após 1 mês. Está atualmente em seguimento ambulatorial, mantendo terapia tríplice, além das drogas convencionais para insuficiência cardíaca, com disfunção ventricular estável, em classe funcional II da NYHA.
Discussão
A MCG é um tipo raro, rapidamente progressivo e freqüentemente fatal de miocardite. A taxa de pacientes que evoluem para morte ou transplante cardíaco no primeiro ano após o diagnóstico é de 40 a 89% em série de casos publicadas. Na MCG até 20% dos casos podem ter associação com outras doenças reumatológicas, associação não encontrada aqui. O MNC é uma cardiomiopatia genética rara, caracterizada por comprometimento da morfogênese do endomiocárdio do ventrículo esquerdo, sendo observado trabéculas na região médio-apical ventricular. Pode ter associação com outras anomalias cardíacas e sistêmicas, em especial, desordens neuromusculares. O prognóstico dos pacientes com MNC é determinado pelo grau de disfunção ventricular e progressão da insuficiência cardíaca, eventos tromboembólicos e arritmias cardíacas. Assim como na literatura, os diagnósticos de MCG e MNM foram aventados após RMC, que é considerada o padrão ouro no diagnóstico das cardiomiopatias. No caso em questão, apesar da associação de cardiomiopatias raras, a paciente respondeu bem ao tratamento clínico, e segue estável em acompanhamento ambulatorial.