Introdução: Estudos vêm evidenciando que os caminhoneiros acumulam muitos fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV) e, acesso limitado aos serviços de saúde. Nesse estudo buscou-se caracterizar o risco cardiovascular dos caminhoneiros. Metodologia: Pela escassez de dados consolidados sobre os caminhoneiros, esse estudo teve recorte transversal e observacional, e foi realizado com 229 caminhoneiros do sexo masculino que percorriam mais de 160 Km/dia. Foram avaliados: dados sociodemográficos, o histórico familiar de DCV, o uso de medicamentos, uso de álcool, tabaco e/ou drogas estimulantes, medidas antropométricas, foi realizada coleta de sangue para avaliação do perfil lipídico, hemoglobina glicada (HG) e níveis da proteína C reativa ultrassensível. Foi avaliado o risco de síndrome da apnéia do sono (SAOS) com o questionário de Berlin, foi realizado eletrocardiograma de repouso e aferido o índice tornozelo-braço para avaliação de lesão em órgão alvo. O risco cardiovascular foi classificado segundo os itens da avaliação global da VII Diretriz de Hipertensão Arterial (2016). As associações foram estabelecidas pelo teste de Qui-quadrado e análise de regressão de Poisson. Resultados: A média de idade foi de 44,71± 10,11 anos, a mediana do tempo de profissão foi 18 anos e, 54,6% dos caminhoneiros apresentavam vínculo empregatício regular. Quanto a fatores de RCV 21% eram tabagistas, 74,7% consumiam bebida alcoólica e 10,5% faziam uso de estimulantes. 42,4% apresentavam níveis pressóricos elevados. Apenas 15,4% apresentavam peso adequado, 58,5% apresentavam obesidade visceral. O risco aumentado para SAOS foi 49,8%. A hipertrofia ventricular esquerda foi identificada 9,6% dos casos e, 19,2% apresentaram ITB abaixo 0,9. Quanto à classificação do RCV 10% apresentava médio risco e 20,9 % alto risco para o desenvolvimento de DCV. Houve associação entre maior RCV com tempo de profissão (p=0,016*0,0140,019), vinculo autônomo (p=0,016*0,0140,019), obesidade (p=0.026*0,0240,029), obesidade visceral (p=0,024*0,0210,026), pressão arterial elevada (p=0,000), hemoglobina glicada alterada (p=0,007*0,0060,009), níveis alterados de PCR-us (p=o,050*0,0480,054), distúrbio do sono (p=0,000). A análise multivariada demonstrou que o maior RCV estava, como esperado, diretamente associado aos maiores níveis de pressão arterial (p=0,000), ao risco de SAOS (p=0,028) e o vínculo autônomo (0,050). Conclusão: Conclui-se que os caminhoneiros se constituem em grupo que necessita de ações de saúde qualificada, com vistas à redução do RCV.